Maré

Sempre imaginei a vida como um oceano: as ondas são criadas no centro, no profundo, e vagam para a superfície. Percorrem todo o espaço num ritmo constante de criação e destruição. Uma equação exata e binária que não possui margem para erros.
Se a vida é o oceano, então, pessoas tomam o papel das ondas nesta metáfora pouco elaborada: surgem em forma de sentimentos no centro, no profundo, até que percorram todo o caminho para a superfície e assim caiam através borda. Não, esta borda não é feita de areia quente e macia. É feita de esquecimento. De não-lembrança. De não-eternidade.
Paradoxos existem, no entanto. Para explicá-los é preciso voltar um pouco no tempo e comentar uma teoria criada por alguém tão lunático quando eu. Ora, caso não saibas, uma vez foi dito que todos somos poeira estelar. As estrelas espandem durante milhões de anos até o dia em que explodem, espalhando suas partículas por toda a galáxia e além. Esses pedacinhos caem em lugares distintos, sendo parte de nossa formação. Um dia, então, seres que são formados da poeira da mesma estrela podem se encontrar. Almas gêmeas não são seres que se completam. São um só, encontrando alguma parte que estava longe. Portanto, não existe apenas uma parte a ser encontrada. Mas a sorte geralmente não permite tal façanha. Paradoxo, então. Com este fato esclarecido, caso tenhas sorte, podes encontrar alguém que continue balançando o mar de sua vida, mesmo quando este já deveria ter caído através da borda da superfície. Superfície do querer. Do gostar. Do estar. Seres insistentes assim continuam lá, sem que haja permissão. Como um pêndulo que balança eternamente. Pode até ser que se acostume e esqueça de sua existência, mas, em um dia de verão, quando a água morna da chuva tocar a janela da casa de cercas brancas que divides com sua enorme família, deste alguém se lembrarás.

Destinados para ser, e não para estar. 

Dia e noite.  Escuro e claro. Norte e Sul. Leste e Oeste.

Rimbaud e Verlaine.

Destinados para ser, não para estar. Unidos sem escolher, sem possuir o poder de evitar; assim como a maré que balança o mar.

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