Sunflower

Tempos atrás, costumava despertar as quatro ou três da manhã e pensar,

entre os sorrateiros ruídos da noite, sobre o que era a solidão.

Ali, a salvo e escondida, me perguntava sobre a imensidão de todas as coisas,

Sobre suas formas, desejos e aromas. Sobre sua dor; sobre seus anseios.

No meio da criação de novas cores, ao nascer de um novo dia, acreditava que nunca encontraria respostas para o que desejava. Seguiria incompleta; rasa. Opaca.

Em um dia quente de Abril, encontrei um girassol em meio a grandes campos dourados

Entre outras flores, entre outras vidas,

Resolvi, então, compartilhar meus medos, junto aos galhos que formavam suas raízes.

Quando crescemos, aprendemos que devemos nos tornar maqníficos, assim como a luz, assim como o sol, lhe contei. O que devemos fazer caso isso não aconteça?

Girassol não me deu respostas, mas gentilmente pediu para que eu tentasse ver o mundo através de sua perspectiva: por entre os brilhantes raios de nossa Estrela Maior.

A grande flor não se achava perfeita, com suas pétalas amarelas e desiguais. Com sua força que pulsava, cheia de vida, em tantas direções. Apreensiva. Imaculada.

Apesar disso, naquele momento

Naquele minúsculo momento, correspondente a um sorriso, 

Me senti envolvida e aquele jardim em que nos encontrávamos foi inundado pela Luz.

O calor transbordava em forma de gratidão por minhas veias como seivas de árvores na Primavera.

Meu coração levitou, como se fosse feito de gás, ao ser carregado como galhos leves e quebrados, nas mãos de uma cuidadosa criança.

Tempestades terríveis foram rompidas e danificadas por um sentimento de pertença. Intrigante, total, extremo, completo. Infinito.

Eterno.

Girassol transformou-me. Com sua sinfonia e cativante voz. Suas palavras, seus pensamentos.

Desde então, desejo poder trocar meus olhos e colocar esferas amarelas nesse lugar.

Dessa forma passaria a ver somente uma cor, o dourado, como a doçura das tranças soprando em harmonia...

Em uma floresta vazia...

Quando eu lhe ver.

Sunflower.