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Mostrando postagens de junho, 2014

Iminência poética

Ela dizia: ''Na maioria das vezes sinto que estou vivendo em um sonho. Não que isso signifique algo bom. Na verdade, sonho é, talvez, o melhor modo para definir a sensação de viver constantemente em um lugar que parece estar cercado por um véu translúcido, porém impenetrável. Um véu de pura neblina diáfana carregada de desejos não realizados, poemas não lidos, espaços vazios e remorsos trancados; que estão ali para deixar-me inebriada. Sinto como se estivesse atrás de uma porta que recebe tentativas, a todo momento, de ser aberta por algo que me amedronta. Seres poderosos, acredito. Aqueles monstros, que nunca tive coragem de observar morando embaixo de minha cama. Eles, que com o crescer de meus meus músculos, fugiram para o meu interior. Viver, para mim, é como sempre estar na iminência de acordar. Acordar para onde? Não sei. Passei a acreditar que vida se resume a isto mesmo, no fim: sentir-se preso a nada e a tudo ao mesmo tempo. Ao tocável e ao intocável. Sentir-s...

Fênix

Ó, pequeno soldado que espera com sua alma quebrada: Tu não és uma concha vazia. Não estás sem propósito. Tu não és culpado pela dor estridente em seus ossos, nem pelo ódio em seu coração. Tu não és o sangue em suas mãos, nem os erros de seu passado. Pelo contrário, possui seu valor: seu corpo vívido e alma gentil. Tu não estás desamparado: mas és a personificação do amor cego e infinito. Tu não podes estar desesperado, pois és o mais forte e merecedor de todos os líderes. Ó, pequeno soldado que espera com sua alma quebrada: Tu não serás definido pelas tribulações e provações e monstros que conquistou. Mas sim pela distância entre o que era... e o que se tornou.

Vertigem

Caminhe calmamente sob as folhas. Há uma canção ecoando gentilmente, no ar. Procure na floresta, em uma névoa dourada que cobre tudo: Foi lá, antes dos pássaros; Foi lá, antes das árvores; Foi lá, muito antes de você que a constelação primária foi formada. Caminhe calmamente, sob as folhas e ouça, com todo o seu coração. Toque o som do silêncio e sinta tudo o que foi e tudo o que será.

Estrelas binárias

Deixe-me dizer as palavras que insistem em rolar de minha língua, brilhando como quasares que queimam... mais poderosos que O Sol. Deixe-me suspirar minha reverência; tocar tua alma com a minha, para que o Universo que está dentro de ti se torne mais próximo. Deixe-me desvendar a mais perversa das galáxias, para que a superfície da Terra se transforme em um oceano cósmico.                                                                          . . . A Mãe-Universo suspira e murmura: ''És digno'' assim apanhando nossas defesas, até nos tornarmos nada além de estrelas binárias.

Pássaro de ferro

Sentei-me confortavelmente nesta gélida manhã e deixei minha mente vagar e meu coração descascar-se em anseios estranhos. Desejei poder prolongar minha vida até o momento crucial em que todas as dúvidas desaparecessem no ar. Paulatinamente, treinei-me para sonhar alto e mais alto e, em seguida, minhas palavras me impulsionaram para o infinito. Porém, este pequeno corpo precisa de força, e não apenas de anseios. Pensei em correr para a borda do precipício mais próximo e tentar voar, mas tu eis de saber, caro ser, que eu não conseguiria: minhas asas não cresceram o bastante... e após cada tentativa, voltei e sempre ei de voltar ao chão. Desejei pegar todos os pedaços de mim e criar a forma física de minha vontade: um pássaro de ferro que estaria preparado para a mais poderosa das tempestades. Desejei seguir o cordão de prata do meu espírito e deixá-lo apoderar-se das terras sem nome e sem fronteiras. Desejei florescer em glória. Longe do lúgubre, do ouro e dos tesouros que alimenta...